... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...


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Em associação com Casa Pyndahýba Editora

Ano I Número 4 - Abril 2009

Poesia - Dorival Fontana

Vizinho


Após o muro
mora o vizinho.
Não me recordo
o seu nome,
nem tão pouco
o seu rosto,
talvez seja Mário
ou quem sabe
Raimundo,
o que importa?
Vizinho da frente,
vizinho dos fundos...
são tantos lados,
entre tantos nomes,
acabo sempre
trocando os números.

Há tempos não o vejo.
Sempre ocupado,
sempre sumido.
Deve sair cedo
e chegar muito tarde.
Não lava o carro aos sábados,
não pede nada emprestado,
não faz fofoca na janela,
não conta piadas,
pouco fala...
e nunca conversamos.

Mau humorado vizinho!
Silencioso muro!

Certo dia, entretanto,
tentei telefonar.
Que bobagem pensei,
ele mora tão perto,
melhor ir até lá,
puxar conversa fiada,
só pra quebrar o gelo,
mas me falta coragem
ou não acho tempo.
O muro aumenta
a distância,
intimida, divide,
encerra o desejo.

Hoje porém, ele se foi
Sorrateiro, sem bagagem,
sem alarde.
Não disse adeus,
nem até breve.
Partiu como chegou,
despercebido.
Morreu esta manhã,
sem despedida.
Infarto agudo,
dizem os entendidos.

Pobre vizinho!
Trágico domingo!